Oito filhos. De quatro mulheres diferentes. Quem dos meus amigos tem oito filhos? Dos meus conhecidos? Conhecidos dos meus amigos? Nenhum. Nos dias de hoje
Continuar lendoRastros, reflexões sobre o envelhecimento, por Elisa Mariz
Chega de viver do passado, da memória do que se foi. Muitos perderam a identidade porque eram conhecidos pelo que faziam, não pelo que eram. A nova e última fase da vida deve oferecer a oportunidade de dedicar tempo à lapidação do eu, de ser mais livre, de concluir projetos engavetados, criar novos, mostrar competência e destruir os estereótipos de seres incapazes e obsoletos.
Continuar lendoBye bye vesícula biliar, por Pricila Marchese, nossa autora convidada
A finitude me perseguia. Comi a última bolacha do pacote. Judith, a gata, fez companhia durante minha caminhada na esteira, com os olhos fixos e apaixonados como nunca. Terminei algumas crônicas que estavam em andamento . Será mesmo que vou desta para melhor? Chegando ao hospital, fomos encaminhados ao quarto.Coloco aquela camisola que mais parece o traje perfeito para a entrada no reino dos céus.
Continuar lendoMoça branca da cidade, por ELISABETH FERRONI, nossa autora convidada
Wekanã tenta mergulhar a cabeça, limitado pelas boias de braço que coloco todas as manhãs, receosa de que meu filho se afogue em mar sem ondas. O esforço vale a pena pelo sorriso que me devolve. Pele morena avermelhada, olhos grandes pretos, cabelo preto liso, franja curta. Corte tipo tigela, era como eu e minhas colegas de faculdade costumávamos chamar aquelas cabeças indígenas na primeira vez que cheguei por aqui.
Continuar lendoJokinha e eu, por Elisa Dias Baptista, nossa autora convidada
Eu e Jokinha temos rituais alimentares que deixam a cerimônia do chá no chinelo. Ou melhor, sendo mais modesta, criamos apenas uma versão infanto-ocidental para esse demorado, sofisticado e tradicional ritual. A nossa cerimônia do cafézinho brazuca é pautada com a mesma exatidão que o relógio que faz tic tac e com o cuidado com que o coração faz tuc tuc. Mesa pronta. As vaquinhas da toalha sorriem pra gente mugindo bom dia. Confortavelmente sentado no cadeirão verde e abóbora, Joka veste seu milenar pijama de ursos.
Continuar lendoPOR QUE ESCREVO? por Lucia de Araújo Cid, nossa autora convidada
Escrever é amplo, é fundo, é insondável. Escrever é cachoeira caudalosa se rasgando entre as pedras até chegar ao remanso calmo e translúcido. E depois se debater em nova queda e se ferir, se depurar em destino certo. Escrevo porque quero cuspir a faca da boca e trocá-la pela delicadeza da borboleta pousada no nariz da criança.
Continuar lendo#autoraconvidada
A difícil arte de viver sozinho…depois dos 60
por Thaty Marcondes
Envelhecer é um treco complicadinho mesmo, principalmente quando se é sozinho. Como dizem por aí, realmente é a idade do Condor: dói tudo, além da lei da gravidade e da gravidez (no caso das mulheres) surtirem efeitos drásticos nessa época. Nem o botox disfarça mais as olheiras: “Seu caso é de plástica” – diz a dermatologista.
Continuar lendo#autoraconvidada
De Carmem Maia,
Cortina vermelha
Eu sempre gostei de me esconder. Nos lugares mais prováveis. Embaixo da cama, atrás da porta, atrás da cortina. Era tão fácil de me achar.
Continuar lendoEncontros com Nise da Silveira,
por José Carlos Peliano
Segui o que queria e ganhei o que alumia. Foi desse jeito que cheguei a Nise da Silveira e dela fiquei amigo por alguns anos de encontros, aprendizados e encantamentos.
Continuar lendo#autoraconvidada
Zulmara Salvador
SONATA
De tão curvado, parece uma vírgula ao contrário, coisa da qual não se dá conta, é claro. Pouco lê, quase não escreve. Uma vírgula nada significa para ele, além de ser um mosquito enfiado entre as palavras das revistas que folheia no carro, ao lado do pai.
Continuar lendo#autoraconvidada
Luciana Assunção, em Psicoanálise
Poderia fazer uma coleção interminável de canecas e xícaras. /
Descobri que não gosto de quadros sem título./
O minimalismo não me afeta./
Prefiro os paradoxos da arquitetura bruta/ brocada de pensamento barroco.
#autoraconvidada
Lidia Izecson, Pianista
Duas pretas três brancas, quatro brancas duas pretas, duas pretas, três brancas, quatro brancas duas pretas, duas pretas três brancas… A parede deve ficar toda branca. Mas eu sou preta, preferia pintar de preto, ia ficar mais bonita. Iam achar mais feia, todo mundo sabe que preto é mais feio que branco.
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