Tenho como passatempo preferido assistir a filmes da categoria B.
Chineses que contam, em dezenas de capítulos, brigas de poder nas eras imperiais. Os quimonos bordados e coloridos, joias primorosas de flores em ouro e pedras preciosas fincadas nos cabelos negros deles e delas. A comida sorvida elegantemente, a finura e elegância absurda, contrastando com o povo, relegado, maltrapilho e faminto.
Nota de autor: Mas em qual momento da história, remota e presente, o dito povo, sob qualquer jugo, foi considerado um ser humano? Ao povo: “damos- lhe brioches”, frase irônica e malvada quando este se rebela.
Apesar da colocação acima, assisto a filmes que esbarram no poder do mais forte. A presença de reis e rainhas, heróis escondidos atrás de suas máscaras de ferro, escudo brasonado e os soldados com arco e flechas, a pé, expostos à morte certa. Tenho fascínio pelas traições e lealdades, intrigas assassinas e a busca desenfreada de poder enquanto os poderosos brilham no seu esplendor e o povo morre de fome.
Nota de autor: Os filmes históricos ilustram o meu ponto de vista: o povo está invarialmente relegado à sua própria sorte.
A covardia será vista como épica no futuro, pois nada mudou no curso da História do Mundo.
Filmes nos quais calhordas e imbecis, como os reis de outrora, mostram a vida de pessoas em iates milionários, casas de tamanho descomunal cujos valores só podem ser pagos por 0,01% ** de pessoas.
Nota de autor: São revoltantes os excessos históricos e a absoluta escassez do povo, estes que assistem, em três D, embasbacados, com as diferenças abissais entre eles e os outros. E pior, sem compreender as entrelinhas do curso da História e do porquê não muda nunca.
Não perco nenhum dos filmes sobre os bárbaros do norte, os vikings, seu heroísmo, destreza em seus barcos ligeiros, o sangue jorrando por todos os lados, as caras imundas de lama.
Nota de autor: Gosto dos códigos de honra, há nesses filmes sobre os bárbaros a insinuação de que nesses heróis existe um princípio de ética e coragem, uma clara e declarada intenção de conquistas territoriais.
Porém os maltrapilhos conquistados, vivem uma vida bastante próxima da vida que levavam os conquistadores em matéria de moradia, vestimenta e alimentação. Fico imaginando o cheiro do sovaco tanto do povo como dos reis quando se deitavam com suas mulheres, cobertos por peles de ursos, o fogo aceso.
Por fim, os filmes ou séries extraídas de livros famosos datados até a Segunda Guerra Mundial são os meus preferidos.
Assim sendo, na Netflix, gostei, especialmente, do filme “Lady Chatterley ‘s Lover” inspirado no livro de D.H.Lawrence. A paisagem inglesa é deslumbrante, as roupas cópias fiéis do pós primeira guerra, o castelo sombrio e a casta nobre vitoriana sempre contra o proletariado das minas de carvão , olhando com desprezo as camadas populares que os serviam.
Isto posto, lembro de uma frase proferida pelo criador de faisões da senhoril propriedade do lorde traído pela sua esposa, a lady. Depois de um beijo pecaminosamente ardente e da impossibilidade de os amantes ficarem juntos, diz o amante:
– “Temos que cortar as partes que nos são estranhas ou aprender a conviver com elas”!
Nota do autor: Vale a pena interessar-se por esses filmes. Aceitar conviver com as nossas partes estranhas é um dos caminhos para nos manter lúcidos, com prazer e divertimento. Experimente!
Bettina, mais uma vez, um texto muito interessante. Adorei a forma como você foi bordando sua narrativa sobre os filmes e as Notas do Autor. Beijos