Pedem que escreva
sobre meus avós
Faço-o com carinho
(Um pleonasmo?)
laconicamente.
Aviso prévio (indispensável):
todos influenciaram
meu caráter (o bom e o mau)
que tecnicamente atribuo
aos DNA.
Tive quatro.
Convivi pouco com dois
(os de meu pai)
e muito com outros dois
(os de minha mãe).
Os da parte de meu pai:
Claudina (vulgo Sadina)
hipocondríaca (nunca me beijou).
Sempre magérrima,
elegantíssima!
Mais Joaquim (sem apelido):
beijava-me com lágrimas de viva emoção.
Pessoa mais bondosa, carinhosa, emotiva
que a humanidade produziu: apenas isso
(E precisava dizer mais?).
Os da parte de minha mãe:
Rita (sem apelido): beijava-me (às vezes).
Evangélica: lia muito a Bíblia (não sei se
entendia, mas dizia que era a verdadeira)
Virei ateu.
João (apelido Janguinho), fazendeiro rico,
coronel honorário da guarda nacional,
educado por minha austera e rígida avó
(eu beijava sua mão direita, sem retribuição;
perdera a esquerda moendo cana de açúcar).
Naquele tempo ajudei o médico interiorano
a sangrá-lo para “curar” a hemorragia cerebral
cortando uma artéria de seu pulso à direita,
então enchendo de sangue a grande tigela.
Por isso sou médico.