O poeta morreu.
O homem no carro não sabe.
As pedras se reviram.
Quietas, aguardam: pra onde nossos significados?
O poeta morreu,
#mães
PERFUME DE FRUTA, por Paulo Akira Nakazato
– Preciso enganar o estômago. Me dá um pedaço. Mãe, não quer também? – olhei-a quieta na cadeira, com os olhos miúdos e as cãs bordando as orelhas com franjas de pensamentos. – Humm…? – Mãe, não quer mamão? – repeti. – Espera, né! – Ah, mãe, “otossan” não vai nem perceber. Tem tanta fruta no butchidã” que ele vai ter indigestão – respondi.
Continuar lendo#TBT
A&A, por Paulo Akira
– Há quantos anos nos conhecemos?
– Vixe! Não sei.
– Pensa…
– Desde 1972… faz 45 anos.
– Já testemunhou dois casamentos meus e muitas outras coisas.
– Fui eu quem armou um deles.
Presença,
por Paulo Akira Nakazato
#celebração
Agora eu queria ter um menino
que me mostrasse os caminhos
de todas as verdades das flores,
e me descerrasse à vista as fartas cores
que há tempos eu venho ocultando
embaixo da máscara gasta e escura.
Agora eu queria ter um menino
que me pusesse na alma um destino
de só a ele servir, sem trégua ou descanso,
como monumento ao qual eu adorasse
vinte e quatro horas do dia, mas no final,
no corpo, nenhum sinal de cansaço.
Agora eu queria ter um menino
que me acordasse de súbito feito um sino
tocando ao amanhecer quente de verão
e me pedisse que lhe desse o pão
e o fruto que eu, por descuido e medo,
havia negado a mim mesmo quando pequeno.
a Lógica de Penélope, segundo Paulo Akira
Embora Penélope desfizesse seu trabalho com muito cuidado e oculta aos olhares incômodos, eu percebia a lentidão com que se encaminhava o término de sua promessa. Os fios em determinados segmentos da tapeçaria en-contravam-se, às vezes, repostos em outros lugares da peça, de tal forma que aquilo me pareceu um cruel ardil feminino […]
Continuar lendoa estética de Ícaro,
um conto-mitológico de Paulo Akira
Dessa forma passaram anos em malabarismos metódicos e, aos poucos, seus corpos acostumaram-se às correntezas ternas do vento. […]
Continuar lendoAres,
por Paulo Akira
cheiro de pé
cheiro de boceta
cheiro de porra
cheiro de sovaco
cheiro de boca
carne de tantos cheiros
Fruta de outono,
por Paulo Akira
Após o almoço eu puxei as pontas da bainha do avental, trouxe-as para a cintura e, dando nós nas laterais, formei uma espécie de saco
Continuar lendoNoturno,
por Paulo Akira
O medo tem asas de morcego, que eu tenho certeza, mora num canto da garagem. Quando vem o anoitecer, ele aparece. Não como um bicho
Continuar lendoMulher água,
por Paulo Akira
A tarde era azul;os campos, verdes.Aqui, perto do fogo,uma chama imitava o sol.Cá dentro, qualquer coisa cinzase mexia nas veias.Ela, desconfiada, atéfez pausa no varal
Continuar lendoVontade,
por Paulo Akira
Hoje acordei pensando em Deus.Normalmente eu praguejo a Deus, embora ateu.Hoje, não, calmamente pensei em Deus.Sem orações, sem desejos, sem lamúrias.Não que tenha algo especial
Continuar lendoA imperfeição do losango,
por Paulo Akira
Para ser lido ouvindo Take Five de Dave Brubeck Quartet no álbum Time Out (1959). Clique no play abaixo! O cavalo quando corre, e sua
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