Há destinos que se defrontam marcando encruzilhadas para grandes acontecimentos e seus perigos inerentes.
Ela, entre as criaturas favorecidas pela natureza, seria uma das escolhidas. Aliava a sua beleza singular à atitude decidida que a fizera conquistar o mundo; o fracasso era inexistente. Uma inteligência sagaz a conduzia para rumos que se revelavam certos, e combinava esses dons com uma afetividade e interesse pelas pessoas, uma sensibilidade provida de curiosidade, como que querendo desvendar interioridades e inserir-se nelas.
Tinha um alto cargo em uma multinacional e seus subalternos, clientes, concorrentes, rendiam-se a seu modo encantador de manter-se no poder, sem esforço; era algo natural, inevitável e certeiro e, ao mesmo tempo, gentil e atencioso.
Ele, fisicamente um irmão, de temperamento oposto, escondia-se da sociedade. Uma timidez aliada a desinteresse. O olhar esquivo e desajeitado em relacionamentos, adquiria perspicácia e agudez no laboratório de microbiologia que conduzia em um renomado centro de pesquisa, no qual já ganhara sucesso e louros profissionais. Um namoro de anos com uma colega pálida e introvertida o mantinha seguro nas relações.
Conheceram-se em uma premiação do laboratório. Foi ao evento somente porque o diretor insistiu em apresentar seu pesquisador principal à representante da empresa que iria patrocinar um novo produto. Ela intrigou-se com esse jovem tão semelhante, mas diferente no porte e na atitude de recuo.
Em pouco tempo tornaram-se amigos. Um desejo silencioso parecia movê-lo a sair de seu encapsulamento e encontrou nela uma mestra ávida em ensiná-lo. Rapidamente avançou, aprumou-se, ergueu a testa e descobriu-se altivo, forte, usufruindo novos prazeres. Por sua vez, ela se orgulhava, gostava da sensação de ter promovido revelações; ambos expandiam sua juventude e se destacavam. Apaixonaram-se.
Uma viagem de navio iria comemorar a relação. Celebrava-se a alegria de viver e de desvendar futuros e promessas. Após o jantar foram ao convés, seguidos de olhares de admiração de homens e de mulheres. A cabeleira dela ondulava e o vestido longo de seda âmbar reluzia ao luar, as figuras altas e esguias pareciam imortais.
Nos olhos dela havia satisfação com o desabrochar dele e, nele, transpareceu um véu de descontraída malícia antes de empurrá-la com um gesto brusco e certeiro. Somente um grito e foi levada pelo mar. Os estilhaços da taça de champanhe atirada ao chão eclodiram o brinde de adeus.
Na cabine para onde foi levado, estava calmo. O capitão perguntou se a pessoa lhe tinha feito algum mal e qual teria sido a razão do ato e espantou-se ao ouvir que, pelo contrário, lhe fizera bem. Mas por que então? Porque não suportava seu olhar de triunfo.
muito bom! um caso de amor! hahah ótimo desfecho!
gostei muito! Entendo bem o moço!