Atenção é a palavra que define a minha vida; prestar atenção é a ação que me comanda.
Captados por meus olhos, os acontecimentos do mundo, tão perigosos para minha sobrevivência, exigem atenção permanente.
Sou objeto dos olhares dos outros, ocupo seus pensamentos: não consigo perceber o porquê de tamanho interesse, apenas sei que é cruel, muito cruel.
A única forma de proteção é fazer uma varredura em qualquer recinto onde entro : olhos, dezenas, centenas de olhos me encarando.
Os mais perigosos são os que usam óculos escuros, é o modo mais comum de disfarce.
Meus olhos, porém, têm a capacidade de penetrar as lentes mais negras.
Há anos desenvolvi essa técnica, que me levou a uma sensibilidade extraordinária aos indícios invisíveis.
Se ficar cego, não perderei em nada minha capacidade de atenção, é possível, até, que desenvolva mais habilidades.
Levo na bolsa pequenos espelhos para captar o entorno; procuro sentar sempre encostado em alguma parede para evitar olhares vindos detrás, mas no metrô, nos ônibus, faço uso dos espelhinhos para julgar o que ocorre lá, onde não tenho olhos para ver.
Ao sair de casa observo bem as minhas costas: tenho um grande espelho que me permite ver dos pés à cabeça: ombros estreitos, o pescoço fino, a cabeça um pouco inclinada para a frente, o cabelo ralo.
Essa é a única parte sem proteção, flanco aberto, sujeito a ataques.
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SYLVIA LOEB – É psicanalista e escritora. Visite seu site, acesse sua página no Facebook ou escreva para o email [email protected]!