Com quatro anos, curiosos por descobertas, era o mês das cores. Aqueles dias, fascinados pelo bronze e cobre, aprenderam que os metais têm cores. A escola estimulava a criatividade e a inteligência das crianças, mais abrangente que a dos adultos, ainda que em formação.
Marcos e Bia, juntos desde bebês por proximidade das famílias, na escola, nos fins de semana, em férias. Ambos atrevidos e indagadores, observadores do mundo, de tudo que esse tinha a oferecer; as novidades recebidas com entusiasmo. Ora eram vistos debruçados sobre o rastro de formigas, ora deitados e olhando as nuvens e, no momento, misturando tintas, cabecinhas juntas e mãos pintadas, ágeis. Ele, com trancinhas nas pontas dos cabelos escuros, enfeitadas com contas coloridas, ela, com tranças douradas, entrelaçadas de borboletas.
Uma quinta feira, a mãe de Bia os buscou na escola e parou com eles na farmácia antes de levá-los para casa. Corriam entre as prateleiras e, no caixa, Marcos esbarrou em uma mulher que, imediatamente, exclamou: pré!to; as crianças estranharam o tom, na escola a cor era apresentada como: pree’to.
Olharam para a mãe de Bia – aqueles olhinhos vivazes de cores âmbar e turmalina – e ela explicou: – Algumas pessoas chamam as outras pela cor de pele. No carro, Bia, seriamente compenetrada, disse a Marcos: – Mas você é marrom cor de castanha madura; e ele respondeu: – Na escola dela não devem ter ensinado as cores. Logo brincaram de coceguinhas.
No final de semana os viram brincando e rindo muito: ela pintando o rosto com terra molhada, ele grudando pétalas de rosas na cara. E, na semana entrante, uma agitação tomou conta deles. Com cadernos de desenho e lápis de cor entrevistavam pessoas, primeiro da família, depois na escola e até na rua; uma pesquisa estava em andamento. Primeiro desenhavam uma cara – círculo, olhos, boca e cabelos – coloriam e pediam que a pessoa escrevesse seu nome em letras de forma e qual era sua cor. Irmãos mais velhos, pais e professora liam depois o que estava escrito.
Descobriram, encantados, um leque de cores novas: bege, marfim, bege rosado, marfim amarelado, marrom claro, marrom terra, bege mostarda, marrom casca de árvore de verão, rosa cobre, marrom cobre, rosa moreno, negro amarronzado, rosa pálido, tangerina, bronze castanho claro, rosa queimado… Para eles o rosto da professora era difícil de definir, era, simplesmente, íris.
Que maravilha de conto.
A sutileza das cores,multicores.
Muito bom Liliana, pintou um belo mix da ternura na pureza infantil com um rasgo provocado por um raio horrendo de alguém que não enxerga doçura. Não importa, a inocência continua fazendo descobertas. Crianças precisam ensinar certos adultos a ver a beleza das cores. Acredito que conseguirão.