Amores, abusados e desabusados, por Liliana Wahba

 

 

 

 

Há tantos amores, amantes e amados, modos diferentes de amar e, talvez como as cores de branco nos inuit – o que acabou sendo um equívoco  – , precisaríamos nomes distintos para cada um deles: amor de mãe, amor de pai, amor fraterno, amor apaixonado, amor de ideais, amor de filho, amor estético, amor gastronômico, amor pastoral, amor a Deus, amor à Deusa, amor aos anjos, amores …

Há tantas qualidades nesses: despojamento ou controle e possessividade? Abandono do eu para estar em outro ou apego ciumento e demandante? Altruísta ou egoísta? E, poderá ser, ao mesmo tempo, tudo isso e muito mais? O amor não é misterioso; é emoção e fibra, carne e nervos, células e partículas, natureza viva, sublime e abjeta, coerente e contraditória.

Subjaz alguma qualidade comum nessa miríade, nessas possíveis constelações? Talvez haja: a antítese do abuso. O abuso se disfarça de amor, usa deliberadamente, sujeita e manipula. Dirão, não é isso que fazemos sempre que amamos? Inevitavelmente, escravizados, escravizamos, implorantes e exigentes, mas, tomados e arrebatados pelo ímpeto do amor, desabusadamente, desavisados, atingidos e expostos.

O abusador, ao invés, será sempre um calculista, o instinto que o move é a predação, desconhece eros e suas vicissitudes.   O abusado, por sua vez, anula sua capacidade de distinguir se ama, se amado é, se afirma sua existência no vendaval que o jogou no universo ou se sucumbe, impiedosamente, à nulidade.

 

LILIANA LIVIANO WAHBA – Psicanalista junguiana. Profa Dra da PUC-SP. Diretora de Psicologia da Associação Ser em Cena – Teatro de Afásicos. Autora de Camille Claudel: Criação e Loucura.

 

2 comentários

  1. Pobres de nós, humanos que somos, sempre necessitados de amor, impossibilitados, na maioria das vezes, de escapar de nossas fantasias e desejos.
    Se Eros nos abençoa, sorte nossa!
    Se Tanatos está rondando, melhor fugir!

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