Gostava de regar o jardim no final da tarde, a minha avó. Então, o ar ficava com aquele cheiro de planta regada, que só antigamente se sentia. Durante o dia costurava, fazia tricô, um para cada neto, um para cada bisneto e quando pensava que ia acabar a fila, sempre nascia mais um. Tinha o maior jeito para ensinar. Foi com ela que aprendi a tricotar, a costurar, e acima de tudo aprendi a paciência e a aceitação das coisas que não se pode mudar. Quando eu ficava doente, sentava-se em uma poltrona no meu quarto e de lá não saía enquanto eu não melhorasse. Eu dormia, acordava, dormia de novo e lá estava ela, sorrindo para mim por sobre os óculos, as agulhas de tricô sempre debaixo do braço. Gostava de cozinhar, a minha avó, e como gostava de fritar bolinhos! Bolinho de legumes, bolinho de arroz, bolinho de queijo, bolinho de bolinho, sem nada dentro. Uma delicia os bolinhos, os risotos, as carnes temperadas. Foi com ela que aprendi a cozinhar e dela escutei, pela primeira, vez o nome dos temperos.
Tenho saudade dela. Tanta saudade!
Lembro-me sempre da sua presença velando meu mal estar, da sua presença tricotando, sorrindo, ou saindo da cozinha, colher de pau na mão, cheirando a alecrim.
Delícia de avó a sua, Tita!
Era uma avó maravilhosa. Eu pensava que ela ia virar santa. Como a Tita me lembro dela sentada na cadeira tricotando nas vezes em que eu ardia em febre por causa da garganta inflamada. É uma lembrança marcante. Muitas, muitas saudades
Que coisa mais linda!
Que seres abençoados são as avós.