O escritor e amigo Luciano de Castro abre seu saboroso livro de crônicas “Os Óculos do Poeta” com a citação de Manoel de Barros:
Meu fado é o de não saber quase tudo.
Sobre o nada eu tenho profundidades.
O grande poeta mato-grossense, aliás, tem uma obra em que mergulha em poemas a respeito: Livro sobre o Nada, da Companhia das Letras.
Já Eduardo Giannetti, notável intelectual, filósofo, economista, compôs livro de ensaios com outro enfoque: Nada é Tudo, publicado pela editora Campus. De maneira brilhante ousou intitular suas reflexões com essa expressão auto recursiva: “se nada é tudo então a própria proposição Nada é Tudo também não é tudo”.
Uma frase que “afirma a existência de limites e ‘pari passu’ os nega”. Celebra em si a importância das perguntas sem resposta, a chama sagrada da busca.
Nada e Tudo não resistem à luz da Vida. Não podem existir enquanto houver a sagrada busca da Poesia, da Filosofia, da Música. A chama sagrada da Literatura, da Ciência e da Arte. Enquanto houver a necessidade de entender os vazios, infinitos ou não, para sempre ou não.
Enquanto os poetas, com seus óculos de pura sensibilidade, nos lembrarem:
“Não quero faca nem queijo, quero a fome.” (Adélia Prado)
“Não sou nada
Nunca serei nada.
Não posso querer ser nada.
À parte isso, tenho em mim todos os sonhos do mundo.” (Fernando Pessoa).
Meu estimado Carlos,
Muito obrigado pela generosa citação do meu livro. Esclareço que sabidamente não somos parentes.
Mas o parentesco talvez exista, pode ser que provenha de algum ancestral comum, quem sabe de algum artesão ou lavrador do norte de Portugal.
Vai saber! Não se sabe de muita coisa mesmo. Somos, por natureza, seres inscientes e incompletos. O importante é buscar e não achar. É preservar a fome como disse Adélia Prado. Parabéns pelo texto e pela provocação. Forte abraço!
Obrigado Luciano. Acho que, pelo sim ou pelo não, podemos nos considerar primos honorários.
Abraço