No alto de uma encosta avistavam-se montanhas, vales e o mar. Os habitantes da cidade e os turistas caminhavam pelas alamedas que rodeavam as edificações, casas, pequenos prédios, praças arborizadas. Podia-se sentar em terraços para conversar, devanear, sentir a brisa.
A praça principal era a atração turística pela qual era conhecida por viajantes, ali no meio uma árvore frondosa tinha sido batizada de A Mensageira. Nela se penduravam cartas em pequenos envelopes coloridos, cada um depositava uma carta e recolhia outra dos galhos, ao acaso, assim como se apresenta o destino.
Permaneci no banco com a minha em mãos, olhando quem dela se aproximava para deixar sua carta.
Um jovem casal entrelaçado com olhares apaixonados se beijou com ternura, ele levantou a moça de vestido esvoaçante que pendurou um envelope rosa, talvez perfumado. O rapaz retirou outro e se afastaram trocando entre si o papel com gestos rápidos, rindo, assinalando promessas.
Um senhor idoso em terno de lã de bom corte e cores esmaecidas, depositou a sua, e leu a seguir a recebida, passos lentos e um leve tremor, rememorando entes idos buscando mantê-los, evocá-los como presença não perdida.
Para a minha escolhi um envelope lilás; perguntava sobre as injustiças, sobre testemunhos e um criador indiferente. Perguntava onde se recolhiam as dores e se iluminava a esperança.
No terraço que se abria para o mar li a mensagem de alguém, as palavras ressoavam ora fortes ou suaves: “Percorri caminhos longos e curtos, encontrei e me despedi, lancei memórias ao vento, nos instantes gravei uma lágrima e um sorriso”.
Traçados sutis de uma busca, muito bom, Liliana!