Na saída da escola os alunos se agitavam, a algazarra era grande. Um menino organizava um coro em torno de uma aluna sentada na mureta.
O cabelo dela é bom! E o grupo gritava as gargalhadas: bril, e repetia e repetia. A menina triste olhava para o infinito tentando ignorar aquele ataque, precisava ser forte. Lágrima contida, rosto duro, sem expressão.
Vi aquele espetáculo sem entender, assustado pelo excesso, pela gritaria, acovardado por ser menor que os do coro, identificado com o sofrimento da menina.
Chegando em casa fui direto contar para os meus pais a injustiça …. E eles riram, e eu não entendi, mas era disso que se ria nos anos setenta, dos pretos, dos pobres, dos gays, dos diferentes.
Recebi hoje uma postagem e nessa tinha uma provocação, qual apelido mais engraçado você se lembra? No post já vinha uma lista enorme de exemplos e de suas justificativas.
Nos anos 70 apelidar as pessoas era algo usual e algumas pessoas tinham o dom de achar o apelido certo para cada um.
De certa forma havia uma democracia no bullying, todos estavam expostos e raramente alguém escapava de uma zueira vez ou outra.
Retrospectivamente pensando era uma coisa constitutiva. Aquilo que não nos mata, só nos deixa mais forte, diria Conan, o bárbaro, que, escravizado, ganhava músculos ao girar um moinho. Depois descobri que era uma frase de Nietzsche.
Pois é, aquele não era o mundo do politicamente correto, a escola, a rua, era uma selva a ser enfrentada.
A crueldade infantil era tolerada como coisa de criança e apesar de sermos ensinados a ter compaixão, na prática, não raro, o grupo se reunia para atacar um que fosse diferente.
Os recém-chegados da escola ou do bairro eram alvos preferidos, havia ali um tempo e um teste para que o forasteiro fosse integrado.
Alguns nunca eram aceitos.
Leonardo, interessante relembrar como era encarado o que hoje chamamos de bullying, numa outra época. O preconceito era mais exposto, vide Monteiro Lobato, com muita naturalidade.
Hoje tentamos reprimir esses sentimentos e atitudes violentas, nas escolas e nos meios de comunicação. Não sei o quanto temos conseguido. Mas a dor de quem recebe esse tipo de tratamento ainda é a mesma. A exclusão do diferente provoca males às vezes incuráveis. É bom pormos esse assunto em pauta!
A ideia do texto era fazer uma constatação, sem julgamento. Era assim. Havia muito sofrimento e quase nenhum espanto. Evoluímos muito nos últimos anos, mas o preconceito está sempre à espreita, precisa ser combatido todos os dias . Obrigado por comentar!