Encontro com a Beleza
Aberto aos encantamentos do mundo, no aniversário de seis anos ganhou um aquário com pequenos peixes coloridos vermelhos e dourados. O maravilhamento veio com o presente da tia mais querida que trouxe em uma pequena sacola transparente o ser mais lindo que jamais vira e que, lançado na água, abriu um leque esvoaçante de cores vibrantes e texturas exibido em sincronias acrobáticas e festeiras, oferecendo-se ao espetáculo.
O garoto aproximava o rosto nos vidros límpidos e o peixinho, batizado de Snuff, aproximava-se para saudá-lo com suas nadadeiras e cauda ondulantes, convidando-o a dançar com o olhar. Os outros peixinhos abriam passagem sem ousar competir com sua graça e formosura. Descobriu que era um peixe da espécie Betta Splendens; o dele, certamente o mais perfeito de todos, evocava mundos fantasiosos de seres etéreos.
Certo dia ocorreu-lhe que um par iria trazer alegria ao pequeno amigo que tanta alegria lhe dava. Durante um ano economizou os trocados que recebia para doces e miudezas e, quando obteve a quantia necessária, pediu para ir à loja de aquarismo e escolheu o mais ágil e de cores brilhantes.
No novo habitat permaneceu quieto durante uns minutos e logo explorou o aquário em círculos e elipses borbulhando; os dois Betta se ignoraram de início, e o menino pensou que Snuff talvez se sentisse enciumado e traído por não bastar para deslumbrá-lo. Logo se defrontaram em nados rápidos e um tanto intempestivos.
Assim foi dormir, em parte feliz, e se perguntando se Snuff preferia ter a companhia de alguém semelhante ou não. A manhã foi trágica, o pranto convulsivo, o tremor febril e incontrolado, o pai e a mãe chorando junto diante dos dois belíssimos peixes flutuando na superfície.
Houve um tremendo engano, o segundo peixe foi adquirido como fêmea sem sê-lo e machos Betta dificilmente convivem. Depois de dias de luto deu as costas ao aquário e nunca mais se interessou por ele, os pais o presentearam a um primo. Negava-se a visitar qualquer bicho em cativeiro. Aprendeu duramente que a beleza é mortífera e, mais ainda, quando se quer prendê-la.