Desde que houve uma invasão de hackers que roubaram os dados de milhões de pessoas, não paro de receber chamadas telefônicas. São várias por dia e a cada vez que o telefone toca meu coração sofre um baque.
Quem estaria do lado de lá?
Tenho atendido, pois sou muito curiosa e talvez… finalmente….
De modo geral desligo porque não gosto da voz ou do que falam.
Outro dia me ligou uma mulher, que escutei durante um certo tempo, pois a voz me pareceu agradável, persuasiva, mas em seguida me desinteressei, pois….
Ontem, uma outra com pronúncia estrangeira, talvez uma alemã, muito áspera. O que ela queria comigo? Imagino que o mesmo que todos desejam…
De modo geral, a linguagem é um pouco tosca, ou melhor, o tom de voz é de pessoas pouco refinadas. Isso fere meus ouvidos, pois estou habituada a vozes e falas mais requintadas.
Frequento uma roda de poesia onde escutei um participante que disse:
Amo Fulana tão forte,
amo Fulana tão dor,
que todo me despedaço
e choro, menino, choro.
Fiquei tão triste, chorei o dia inteiro.
Resolvi que não vou mais frequentar esses grupos, o que tenho ouvido me corta o coração. Quer saber de mais uma? Diz assim:
Deixarei aqui meus amigos, meus livros, minhas riquezas, minha vergonha.
Deixarás aqui tua filha, tua avó, teu marido, teu amante.
Quem precisa escutar isto? Quem precisa sofrer mais ainda do que a gente já sofre?
Vou parar de falar
vou fazer.
O telefone está me chamando. Volto já.
Talvez, finalmente…
Sylvia, também recebo telefonemas invasivos. Nem deles o cara, que queria falar com Josino perguntou quem estava falando. Falei: A governanta. Perguntou pelo Josino, falei que viajou. Ele respondeu, Você é muito mal educada. Falei Sim, sou muito mal educada, E você além de mal educado, é invasivo. Ele desligou.
Inundação, título perfeito para sintetizar o sentimento que nos invade ao ler o texto. Gostei!
Sylvia consegue transformar situações do dia-a-dia em texto literário primoroso, que maestria!