Blog Clube dos Escritores 50+ Paulo Akira Presença

Presença,
por Paulo Akira Nakazato
#celebração

Agora eu queria ter um menino
que me mostrasse os caminhos
de todas as verdades das flores,
e me descerrasse à vista as fartas cores
que há tempos eu venho ocultando
embaixo da máscara gasta e escura.

Agora eu queria ter um menino
que me pusesse na alma um destino
de só a ele servir, sem trégua ou descanso,
como monumento ao qual eu adorasse
vinte e quatro horas do dia, mas no final,
no corpo, nenhum sinal de cansaço.

Agora eu queria ter um menino
que me acordasse de súbito feito um sino
tocando ao amanhecer quente de verão
e me pedisse que lhe desse o pão
e o fruto que eu, por descuido e medo,
havia negado a mim mesmo quando pequeno.

Agora eu queria ter um menino
que corre, pula, grita, faz caretas e mimos,
mas que tem também momentos
em que olha melancolicamente o poente
e o retorno de bandos de pássaros
ao espírito que teima em só pousar.

Agora eu queria ter um menino
que, indiferente ao que penso e sinto,
faz de sua vontade um brinquedo –
delicado mecanismo sem pensamentos
com catracas, polias, alavancas e aletas –
que alça o pesado coração com borboletas.

Agora eu queria ter um menino
– sem vergonha de ser menino –
que me despisse das roupas onde estou
e, complacente como uma nuvem que passa,
desaguasse a chuva que amanhã virá
sobre tantas mágoas que guardei ontem.

Menino, desce do seu altar e vem.
Não para sofrer nas paixões
o que o esperam como deus.
Antes, talhe-me qualquer verso seu
na folha branca, árida e humana,
e faz da vida um poema de eterna infância.

7 comentários

  1. Coisa mais linda este menino que chega para nos lembrar que temos um menino dentro de nós, que renasce a cada momento .
    Paulomeninopoeta que nos convida com palavras a lavar as mágoas e alçar o coração no voo das borboletas.

  2. Paulo.

    Hoje li seus textos. Todos que aqui estão reproduzidos.

    O menino, culto e atento aliado à sua ( Paulo) capacidade de transformar a vida dos sentidos em textos que contam o cotidiano da alma.
    Vivo ( o menino) ; iluminado e triste ( um pássaro sem asas); grave como (a ovelha nao ser mãe de um cabrito) ; translú – cido, ( a logica de Penélope), conversam comigo. Os guardo como preciosas viagens para dentro do olho do furacão.
    (Uma boa inveja acompanha estas minhas frases)!

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