Me conta
O quê?
Qualquer história louca
Então…
Se fôssemos bichos
Teríamos línguas longas, melosas, um pouco ásperas
E lamberíamos o corpo um do outro
Todas as feridas
Até sobrar só a pele rosa e fresca
E a gente não contaria o tempo
E o tempo não seria perdido
Poema de cura, ótimo jogo entre sensações – corpo -/ lamber – e temporalidade. Fica girando e repercute. Muito bom!
Que lindo isso de poema de cura, Liliana! Obrigada pelo seu olhar!
Gosto da sua ousadia, Adilia, sempre um degrau a mais, um inesperado que causa um pouco de… estranhamento.
Acho que conversaria bem com algumas partes do Meu Corpo
1- Poemas foram feitos para serem lidos ao acordar?
2- Haikus tem relação com telegramas, não? [ou, por outra, será que alguns telegramas de antigamente faziam poesia sem perceber?]
3- os dois últimos versos são excepcionais.
4- bichos têm um saber que se ausenta das produções do cérebro, não?
Sergio, seus comentários poderiam estar lá em cima, à guisa de poemas…obrigada!
Que maravilha se o outro pudesse conhecer nossas histórias (e também estórias) pelas cicatrizes do corpo. Tocando, lambendo, beijando, curando e, talvez, infelizmente, também provocando. Seria gostoso comer uma naco de crosta da infância do outro? Que sabor teria? E ao comê-la, faríamos então parte dela? E aliviaríamos seus traumas, deixando a pele lisa e confortável?
Belo poema… intrigante.
Parabéns.
Paulo, seu comentário vai muito além do poema, ousa ainda mais. Você como verdadeiro poeta talvez possa chegar onde eu não consegui. Somos antropofágicos afinal?
@sylvialoeb, obrigada, não sou poeta, mas gosto de experimentar sim. Às vezes, a linguagem parece bala que você fica rolando na boca antes de, finalmente, quebrar e se surpreender com o sabor!
adilia,
….E a gente não contaria o tempo
….E o tempo não seria perdido
– tao tempo acontecendo! lembrarei sempre!
a imagem do paulo, a sua e os organolépticos(?), sylvia e sergio …
apesar da estranheza e sua coragem, diria que o tempo nao perdido seria morder um naco da infância do outro ( ou da gente mesmo, lambendo suas feridas (ou as nossas mesmo!).