Recebi mailing de uma pessoa que escreve ao grupo: “Com o desejo que todos estejam vivos e bem”. Quis responder: obrigada pelos votos e, se não estivesse viva, não veria a mensagem, espero continuar recebendo. Não o fiz, por cautela; estes são tempos difíceis e todo cuidado é pouco, por isso postam tantos cantos, músicas e orações, não há risco nelas de atacar facções e acirrar temores ou ansiedades.
Um colega – psicólogo, analista de renome e excelente escritor -, Alberto Pereira Lima, transcreveu a seguinte epígrafe em seu livro O pai e a psique, dito por um garoto de quatro anos: “Eu me assusto com o soluço, com o susto e com o sol”.
E assim é a vida, transcorre entre expectativas e sobressaltos. Quando cessam ambas é sinal certeiro de fim dela. O coração bate, o pulmão expande e o cérebro faísca, precisa consonância entre eles; o básico é a batida, o ritmo, o susto. A vida vegetativa tem um órgão cardíaco que apenas sustenta uma continuidade orgânica, não se apaixona nem se espanta.
Outro sinal de permanência de vida é a troca e comunicação; esperamos receber e dar, emitir mensagens com quem nos importa e altercar com desafetos. Somos uma espécie comunicadora, o eremita se comunica em pensamento.
E, para finalizar, um comentário sobre a situação atual nestas paragens, como diz o Père Ubu, Merdre, e na Chanson du Décervelage: Hurra! Voyez, voyez la cervelle sauter (Vejam, vejam, o cérebro saltar).
Sim, estamos vivos entre o susto e o soluço, que dádiva o sol! , quando não esturrica! A vida não é fácil, mas enquanto pulsa, estamos aí, como se diz.
Jái aimé le cervelle qui saute!
O soluço e a saudade.
Um acontece de repente sem saber porque e de onde veio, mas tem solução : tomar água , olhar para cima, levar um susto, prender a respiração. Já o outro também vem de repente, porem sabemos que vem da falta, da ausência. Falar por fone, por vídeo, ver foto nada resolve só piora. O melhor e dormir, sonhar e chorar soluçando.
Sinto saudades!
Querida Liliana,
Tocadíssimo pelo teor de sua mensagem, pelas linhas, pelas entrelinhas e pelo valor (imenso e nobre) que ela veicula.
Possa a vida (e poderá) ressoar a você e a seus dizeres com justa afinidade.
Ouvi-la faz-me grande bem.
Obrigado, querida.