De repente, quando chegou ao lugar pré-determinado, no dia exatamente certo, na hora exata, Deus percebeu que havia se esquecido de todo o material necessário para criar o mundo.
– E agora?- pensou o Todo Poderoso
Seria sua única chance de criar sua grande obra-prima… Mas…
Sem a luz e o calor
Sem os componentes da grande explosão inicial, como fazer?
Sem o impulso para o primeiro pulsar
Sem as cores , sabores, nem sons
Sem o envolvimento do movimento
Sem o afeto nem o feto, como fazer?
Sem o desejo, do primeiro beijo
Sem a pele nem a carne
Sem o toque e o prazer, como fazer?
Sem o sangue quente derramado
Sem os dentes, nem a língua
Sem o gosto nem o desgosto, como fazer?
Sem as asas, sem o sonho
Sem a fantasia, como fazer?
Sem o arco nem a flecha
Sem o ventre nem a espada
Sem a semente nem a terra, como fazer?
– Não dá! Vociferou o Todo Poderoso.
– O que fazer com essa imensidão sem o material necessário?
– Que vacilo…
– Terei que voltar outro dia.
Fechou a mala vazia. E com uma eterna, infinita, incomensurável, onipresente e onisciente frustração, voltou ao nada.
E nada se fez…
Será?
Circulou um boato que, em um cantinho escondido na imensidão, o Diabo esperava, com a mala cheia de material…
amei, colega, uma vez mais. amei seus versos…
Isso, o diabo não esquece, talvez porque não dá a mínima para a criação. Boa, Clemari
Clemaris,
acredito no que v. expressou tao bem. A imagem poética cabe perfeitamente para quem nao acredita no Todo Poderoso, apenas no Diabo da Mente. Parabéns.