A frente da grande janela de vidro uma folha se destaca, nela escorregam as gotas de chuva,
Desliza uma de cada vez, no sulco da folha, até a ponta, quando …,
Em algum momento, agora sem registro, a vivacidade foi ofuscada pela dor, ainda que o percurso continuasse.
O tempo da gota se iguala ao tempo do universo, tranquilo e indiferente ao olhar, deixa sua trilha molhada e límpida,
Sussurros cadentes e batidas de um coração que parece alheio; dentro ou fora, traçamos um destino ou somos por ele fabricados?
A gota reluz na folha de um verde intenso, reflete cores e luminosidades, tão transparente e brilhante, muda ligeiramente de forma, circular, oval,
O percurso da dor me fez descrente e esquecida, o fulgor era de outrora.
O tempo para na expectativa do desprendimento dessa gota; parece agora imóvel, aguardando,
E, num instante de eternidade, se solta da folha para o espaço aberto.
Lindíssima metáfora da vida, do absolutamente inefável. Tentamos palavras e imagens, sempre insuficientes.
Encantamento e dor, tempo e morte numa gota de chuva que se desprende. Gostei demais.