Sem palavras a poesia
Plena de sílabas vazias
E concreta imperfeição
De abstrata imaginação
Insiste mesmo em vão
Em passado inexistente
Na busca de invocação
Que assim tão ausente
Até carente de emoção
Numa reticente omissão
Nada invoca o presente
Sem rimas inusitadas
Contexto ou conteúdo
Nem estrofes ousadas
Brotou esse som mudo
De desfalcado sentido
E assim tão destituído
De emoção adequada
Com frase equivocada
Melhor foi até abortar
Dispensando invocar
O vazio além do nada
Sem um bardo evocar
E outro qualquer poeta
Quer vivo ou passado
De mérito comprovado
Ter sucesso em imitar
Fica impossível almejar
Algum inusitado sentido
Versar em amor ou ódio
Angústia, tristeza e ócio
A viver tédio desmedido
Melhor é nada redigido
Embora tendo querido
Gerar poema inteligente
Mas sempre negligente
Não levou o texto além
E nunca lido por alguém
Foi de pronto esquecido
Logo da crítica excluído
Morreu sem ter provido
Letras mesmo remotas
Quer vivas ou mortas
Nada tendo auferido
Reza condescendente
Numa lápide indiferente
Certo texto condizente:
“Em túmulo, mantidos
Aqui jazem esquecidos
Versos desconstruídos
Para nunca serem lidos
Melhor sendo perdidos
Logo que então paridos
Pois daquilo que nasceu
Nada mais sobreviveu”
Eder,
nas situações mais esquisitas, nascem poemas. É uma flor resiliente. Precisa de mãos como as suas para mantê-las. É quando as enterramos que elas nascem.
Boa tarde Paulo:
V. tem razão: é nas situações mais esquisitas…. No meu caso a poesia geralmente surge quando estou guiando… Paro o carro, escrevo duas ou três linhas, caso contrário são imediatamente esquecidas, e em casa elaboro as frases. Porém, é verdadeiramente um parto: durante 9 meses vou mudando aqui e ali até aceitar que o filho é meu. Verdade que antes dele houve vários abortos…