A menina e eu,
por Cris Gerevini

Está tudo tão diferente, mas, conforme me aproximo, reconheço a iluminação, a cor do céu e o cheiro.

Tudo evoca a sensação estranha de um tempo surreal de pequenas descobertas que teimam em esmaecer-se. Por incrível que pareça, está presente e se escancara numa avalanche de memórias quase esquecidas.

A antiga feira onde eu e meu pai comprávamos flores pra professora ainda resiste. As palmeiras foram preservadas nos jardins de prédios altos que não estavam ali.

Paro exatamente em frente ao portão verde de madeira, que já não existe mais… onde eu estava quando me despedi da meninice?

Na minha frente, aquela menina que parecia andar nas nuvens me espreita. Os olhos grandes e vivazes me reconhecem em qualquer vestimenta, em qualquer emoção e me encantava com seu olhar doce de gente amada.

Meio gordinha demais e cabelo espetado demais, é assim que a vejo nos meus sonhos. Era, também, meiga e cordata, não resistia aos cuidados que lhe impunham com carinho. Observo a menina me sondando, curiosa pra saber quem eu sou.

Encaro-a com firmeza e falo:

-Eu sou você e vim saber o que você tem a me dizer.

Continua…

Uma questão: Como seria o encontro de você mesmo com sua criança?

Cris Gerevini: sou uma mulher de meia idade, brasileira e… comum. Gosto da literatura sul americana pelo mix de magia fantástica e personagens sui generis, amo cachorros e recentemente descobri a doçura dos gatos. Sempre usei o recurso da escrita para tentar definir meu eu em todas as minhas interações.

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