A tarde era azul;
os campos, verdes.
Aqui, perto do fogo,
uma chama imitava o sol.
Cá dentro, qualquer coisa cinza
se mexia nas veias.
Ela, desconfiada, até
fez pausa no varal de lençóis
e pouco ou quase nada
olhou-me de viés.
O sol verdadeiro,
entre nuvens,
bronzeava as maçãs do rosto.
Lá acima da cabeça
coberta com o chapéu de palha
uma fagulha incendiou os céus.
Os dedos enrugados
pela água-de-sabão
estalaram, ainda,
o eco dos seus ossos.
Eu vi:
parte da colina
rebrilhou ao longe,
a metade escureceu.
Como desaba, e não por frações,
eu vi:
as nuvens eram água,
as ervas eram água,
a terra era água,
da água a vida brotava.
Água
era a mulher e seu corpo,
aos rodopios, vórtice
de gotas que a ela convergiam.
Rendas d’água, pele d’água.
Em águas o amor fluía.
E como soubesse,
que de meus olhos
um rio transbordava
e nela se imiscuía,
vagarosamente,
entre brancos e encharcados lençóis,
ela vinha,
silenciosa carpa em correntezas arredias
ela vinha, vinha…
O céu nasceu azul;
as árvores em verde reluziam.
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PAULO AKIRA NAKAZATO – 55 anos, físico. Adora palavras e às vezes organiza algumas em contos e crônicas, esperando que façam sentido. Mas o que o atrai, mesmo, é quando elas orbitam no poema e se arranjam em sistemas estelares próprios.
Lindo! Muito lindo!