As pernas abertas e dobradas, o médico apoiado em sua barriga empurra o bebê para fora, é muito bruto, não é assim que uma criança deve nascer, mais um urro, sangue, fezes, um jorro de água traz o bebê para o mundo.
As solas dos pés esquentam numa onda de calor, bom, muito bom, nem sabia que os pés estavam gelados, mas os dentes batem, os ombros tremem, está com frio?
Arrombada, sente-se arrombada, a barriga murcha, uma bexiga vazia, os seios inchados, sem leite.
Ela sente a pele grudenta, deveria estar feliz, vai ficar feliz mais tarde, sabe que vai.
Queria tanto um bebê. Levaram meu bebê para onde? Devolvam meu bebê.
Sem forças, a mãe geme. Um peso quente em cima da barriga, dói tudo, um corpo melado, meu bebê, parece o filhote da Caki, coberto por uma pasta esbranquiçada, vou ter que lamber minha cria, igual à cadela.
Mais uma cólica, dobra as pernas para proteger o ventre da dor, uma papa escura e sangrenta sai de dentro dela, inunda a cama, o bebê chora, ela abraça seu bebê, aspira o odor da pele dele e chora junto.
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SYLVIA LOEB – É psicanalista e escritora. Visite seu site, acesse sua página no Facebook ou escreva para o email [email protected]!
escatologias do nascer…