As quatro graças, por Sylvia Loeb


 

 

Na esquina da rua movimentada,  ela de shorts e camiseta curtíssimos, seios imensos, pernas longas empoleiradas em sandálias salto 15,  nos ouvidos fones de onde sai som trepidante que se espalha pela trepidação das coxas, das ancas perfeitas, dos cabelos louríssimos.  De vez em quando dá uns passos gingados pra lá e pra cá, sempre perto do poste onde esfrega o corpo, a cabeça virada para trás numa clara avaliação dos efeitos que sua dança está causando. Os carros  não diminuem a velocidade, alguns homens passam sem olhar,  outra mulher, junto ao ponto de ônibus, logo ali, calmamente falando ao celular.

Andando muito devagar pela calçada cheia de buracos, olha para baixo cuidando para não cair e apesar do calor africano, roupa larga e comprida esconde suas formas, que mesmo assim, se adivinha desarmônicas: ombros estreitos, seios grandes e caídos, quadril excessivamente largo. Cabelos escuros e longos frouxamente presos, uma madona renascentista. Um pouco encurvada, os braços ao redor do corpo como se levasse uma criança grande e desajeitada que requer cuidado para não deixar cair nem machucar. A quem estaria carregando?

Shorts curtos, camiseta branca, sandálias rasteiras, cabelos que batem na cintura, uma sacola de supermercado, ela vem pela calçada sombreada, caminhando com calma, elegância de passarela, sabendo-se belíssima no seu corpo negro, leve sorriso nos lábios, na recordação de uma noite de amor?

Correndo na praça, sob um calor ainda escaldante, shorts curtos, camiseta larga, tênis confortáveis, cabelão que cobre as costas, lá vai ela, menina de quinze anos, rumo ao futuro.

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SYLVIA LOEB – É psicanalista e escritora. Visite seu site, acesse sua página no Facebook ou escreva para o email [email protected]!

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