Mme Thérèze, por Sylvia Loeb

Veio para nossa última aula. Foi minha professora de francês por anos e amanhã se vai embora de São Paulo, morar com o filho em outro estado.
Sempre elegante, hoje vestida com esmero especial, casaquinho pied-de-poule branco e preto, punhozinhos de veludo negro. Ares nobres, foi casada com um conde polonês e essa roupa ressalta uma certa fidalguia. Dá aulas em ”mon petit salon”. Sendo da nobreza, é discreta nas falas, ausência de intimidade.
Conta que se vestiu assim hoje especialmente, pois sendo nosso último dia, quer fazer uma homenagem à minha filha que lhe deu esse lindo casaquinho francês que foi de sua avó, minha primeira sogra.
Mme. revela um segredo! a roupa usada! o olhinho vivo, marejado, talvez pelo momento.
Mme. pergunta se conheço a nova mulher de meu ex-marido.
Mme. pergunta se fiquei sabendo da festa de casamento deles.
Mme. diz que imagina que meu ex-marido esteja muito apaixonado pela nova mulher, pois até chegou a lhe mostrar fotos do casamento.
Mme explode sua nobreza, a fala deixa de ser discreta, a intimidade aparece despudorada e para completar a quebra do protocolo, pergunto se posso abraçá-la e no único momento de carinho expresso, abraço ternamente uma pilhazinha de ossos que se sacodem num soluço, num riso abafado.
E Mme Thérèze vai-se embora de minha vida.
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SYLVIA LOEB – É psicanalista e escritora. Visite seu site, acesse sua página no Facebook ou escreva para o email [email protected]!

 

 

Um comentário

  1. Sylvia! acho que Mme Thérezè é muito curiosa [demais] – e um pouco sádica. também tive uma professora de francês, Mme Simone… Ela também era curiosa [demais] e um pouco sádica. Mas nossas memórias às vezes subtraem os sadismos… Tanto melhor.

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