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Neste verão tão quente a companhia ideal é ainda mais quente

Este nosso verão está sendo excepcionalmente quente com temperaturas batendo facilmente 35 graus. Se você está ou vai sair de férias, ou, mesmo, se vai aproveitar o carnaval e ficar em casa, aí vão algumas sugestões, tão quentes como a temperatura.

No último post, publicado há pouco tempo neste blog, falei sobre como surgiram os livros policiais, conhecidos como “literatura noir”, que deram um novo rumo às histórias clássicas de detetives, influenciando assim os autores atuais que se aventuram por esse tipo de publicação.  É deles e dos vários tipos de detetives que eles criaram que vamos falar aqui:

 

PATRÍCIA HIGHSMITH (1921 – 1995) 

Escritora americana e contista, conhecida por seus thrillers psicológicos, com mais de duas dezenas de adaptações cinematográficas. O que Patrícia mais gostava em seus personagens — anti-heróis criminosos –, era que também fossem exímios falsários: desde documentos valiosos, de obras de arte até – a mais fascinante de todas –  troca de identidades.

Embora ela tenha escrito especificamente no gênero de ficção de crime, seus livros têm sido elogiados por vários escritores e críticos como sendo artísticos e inteligentes o bastante para constaram entre bons representantes de literatura tradicional.

Recomendo a aclamada série que traz seu personagem recorrente, Tom Ripley – um amoral, sexualmente ambíguo, vigarista e assassino ocasional. São cinco romances, popularmente conhecidos como o Ripliad, escritos entre 1955 e 1991:

 

O Talentoso Ripley (1955) – Ripley Subterrâneo (1970) – Jogo de Ripley (1974) – O Garoto que Seguiu Ripley (1980) – Ripley Debaixo D’agua (1991).

 

Qualquer um deles é uma companhia agradável e estimulante. Mas você pode experimentar ler todos na ordem em que foram escritos, começando por:

 

O talentoso Ripley:  o personagem aqui é apresentado e introduzido na vida que vai levar em todas suas histórias. Ripley é um malandro que sobrevive de trambiques em Nova York. Especialista em falsificar documentos, tem um talento extraordinário para imitar personalidades e características pessoais. Supondo que Ripley seja um grande amigo de seu filho, um milionário o incumbe de trazê-lo de volta da Itália, onde está levando uma vida de play boy longe da família. Assim começa a saga de Tom Ripley.

O livro é um clássico da literatura policial. Ganhou duas versões para o cinema: a primeira, em 1959 do diretor René Clémente, com Alain Delon no papel de Ripley; a segunda, em 1999 filmada por Anthony Minghella, com Matt Damon no papel principal.

 

DENNIS LEHANE (1966 -)

Escritor dos Estados Unidos, autor de romances policiais. Escreve livros violentos, com enredos investigativos e atmosfera sufocante, em estilo noir.  Em toda as histórias de Lehane nada é o que parece. O branco é preto e o embaixo é em cima. Ele herdou de Dashiell Hammet a agilidade para narrar cenas de ação e a crítica aguda às implicações entre crime e poder.  Suas tramas de leitura rápida e diálogos intensos, geralmente de cunho político, mostram uma sociedade mentirosa, gananciosa e racista, onde a busca pelo poder é a prioridade.  Os livros da série que traz a fantástica dupla de detetives particulares, Patrick Kenzie e Angela Gennaro, estão seguramente  entre os melhores da literatura policial atual. Amigos de infância, nascidos e criados nas ruas de Boston, a dupla possui uma química indiscutível. Acham que já viram de tudo e sobreviveram, mas não é bem assim. Vocês devem conferir.

 

Faz parte da série Kenzie-Gennaro:

Um Drink Antes da Guerra (1994) – Apelo às Trevas (1996) – Sagrado (1997) – Gone, Baby, Gone (1998) – Dança da Chuva (1999) – Estrada Escura (2010). Vale a pena começar pelo primeiro.

 

Um Drink Antes da Guerra: conflitos raciais, briga de gangues e a cidade de Boston são os três elementos onipresentes. A cidade é tão importante quanto os habitantes – brancos ou negros, ricos ou pobres, vivos ou mortos – e seus problemas. Kenzie e  Gennaro são apresentados por  Lehane, neste primeiro livro da dupla, sem rodeios e é no decorrer da leitura que conseguimos montar um retrato, ainda que inacabado, dos dois.   No texto é Kenzie que narra a história, misturando reflexões íntimas e conflitos psicológicos, com cenas de ação tão cruas e tão reais que às vezes a gente esquece de respirar entre uma frase e outra.

 

LAWRENCE BLOCK (1938 -)

Um dos mais famosos escritores norte americanos de mistério, em 1993 recebeu o mais prestigioso prêmio da área, o título de “Grande Mestre”, pela Mystery Writers of America. O primeiro de seus trabalhos foi lançado em 1957. Desde então, publicou mais de 50 novelas e mais de 100 contos, além de várias séries de livros policiais.

Seus livros mais famosos são da série que têm como personagem principal Matthew Scudder, um detetive aposentado, alcoólatra em recuperação, que trabalha em casos informais na chamada  Hell’s Kitchen (Cozinha do Inferno), uma das regiões mais violentas de Nova York.  Scudder não tem ao seu alcance computadores com os seus bancos de dados ou celulares potentes, trabalha recorrendo às ferramentas clássicas,  intuição e perspicácia,  nos interrogatórios habituais dos suspeitos.

 

Repleta de descrições das ruas escuras e becos de Nova York, a escrita do autor é extremamente realista, fluida, sóbria e carregada de mistério. Os diálogos são frequentes e bastante intensos em todas as narrativas. Block conseguiu fazer do personagem de Matthew Scudder um dos detetives mais fiéis e convincentes do gênero policial nos dias de hoje.  Foi sugerido que a guerra de Scudder com o alcoolismo seja em parte autobiográfica.  Block nega discutir o assunto, alegando a preferência dos Alcoólicos Anônimos de se manter no anonimato.

 

Desta série foram escritos e publicados nos Estados Unidos dezessete romances. No Brasil saíram:

The Sins of the Fathers (Os Pecados dos Pais) 1976 – A Stab in the Dark (Punhalada no Escuro) 1981 – When the Sacred Ginmill Closes (Quando Nosso Boteco Fecha as Portas) 1980 – Out on the Cutting Edge (Na Linha de Frente) 1989 – A Ticket to the Boneyard (Um Bilhete para o Cemitério) 1990 – A Dance at the Slaughterhouse (Um Baile no Matadouro) 1991 – A Long Line of Dead Men (Uma Longa Fila de Homens Mortos) 1994.

 

Recomendo, para quem não conhece, começar pelo quarto escrito pelo autor e segundo lançado no Brasil. Acompanhe a sequência:

 

Punhalada no Escuro – minha estreia nas aventuras de Scudder. Mesmo sendo o quarto livro, consegui entrar totalmente na narrativa. São histórias independentes. Aqui, o detective é contratado por um homem cuja filha, Barbara, havia sido supostamente morta por um serial killer com um picador de gelo, nove anos antes. O assassino, recentemente capturado, confessa os assassinatos, exceto o de Barbara. O homicida tem um álibi irrefutável, então quem matou a moça?

Embora o livro tenha sido escrito sob o ponto de vista de Scudder, na primeira pessoa, o autor fixa a ação apenas na evolução dos acontecimentos.  Tirando os problemas com o álcool, o leitor desconhece a vida pessoal do detective, deduzindo apenas sua dificuldade em manter relações sérias com o sexo oposto. Portanto Block, o mestre, apenas se preocupou com o enredo, sob o ponto de vista do mistério e da investigação.

 

Não seria justo deixar de apresentar e recomendar um excelente escritor brasileiro de livros policiais, que carrega a tendência “noir”.

 

LUIZ ALFREDO GARCIA-ROZA (1936 -)

Escritor, foi professor universitário e autor de livros sobre psicanálise. Em 1996, aos 60 anos de idade, estreou na literatura de ficção com O Silêncio da Chuva e ganhou reconhecimento como autor romancista. Os personagens de seus livros são: o delegado Espinosa e o jovem investigador Welber seu braço-direito, tão incorruptível quanto ele.  Suas histórias acontecem na cidade do Rio de Janeiro, entre Copacabana onde está localizada sua delegacia e Peixoto, o bairo onde mora. Embora ambientadas no Rio de Janeiro as histórias fogem dos temas comuns, narcotráfico e venda de armas, ao apresentar casos mais relacionados a dramas pessoais mal-resolvidos. O interior de cada personagem é bem explorado, sem esquecer as descrições de um Rio de Janeiro muito particular, narrada pela visão do delegado.

 

Espinosa é um detetive humano, que erra, hesita, se tortura e em suas aventuras/ desventuras, que faz do Rio de Janeiro não um cenário, mas um personagem ativo de cada história. Mesmo fechado, cético, porém não cínico, conquista pela simpatia.

Garcia-Rosa lançou dez romances com seu personagem detetive:

 

O Silêncio da Chuva, 1996 – Achados e Perdidos,  1998 – Vento Sudoeste, 1999 – Uma Janela em Copacabana, 2001 – Perseguido, 2004 – Espinosa sem Saída, 2006 – Na Multidão, 2007 – Céu de Origamis, 2009 – Fantasma, 2012 – Um Lugar Perigoso, 2014.

 

Recomendo para mergulhar nas excelentes histórias de Garcia- Rosa:

 

O Silêncio da Chuva – Primeiro romance policial do autor e estreia do seu famoso personagem, o Inspetor Espinosa.  O livro ganhou o Prêmio Nestlé de Literatura e o Prêmio Jabuti de Melhor Romance, ambos em 1997. Nele Espinosa, ainda inspetor da 1ª DP, é um homem de meia idade, solteiro, solitário que dedica sua vida quase que totalmente à policia e aos casos sórdidos com os quais tem de conviver todos os dias.  Na conturbada rotina do inspetor, tudo parece transcorrer de forma calma e tranquila, mas, de repente, ele se vê envolvido em uma trama misteriosa, sórdida e inacreditável. Um executivo famoso é encontrado morto com um tiro, sentado ao volante de seu carro, no centro do Rio de Janeiro.  Além do tiro não há outros sinais de violência. Ninguém viu nada, ninguém ouviu nada. Espinosa, encarregado do caso, costuma refletir sobre a vida (e a morte) olhando o mar sentado em um banco da Praça Mauá. No momento tem muito sobre o que refletir. De um lado, um morto surgido num edifício-garagem; de outro, a incessante multiplicação de protagonistas no drama. Tudo se complica quando ocorre outro assassinato e pessoas começam a sumir.

 

É isso ai meus amigos, com essas indicações vocês terão boas companhias, não só para esse verão quente que estamos vivendo, mas com certeza por todo ano. Vale a pena embarcar na leitura de qualquer um dos livros destas séries.  Vocês terão surpresas agradáveis acompanhando os personagens apresentados e seguramente passarão a perseguir as aventuras destes detetives.

Se vocês quiserem fazer algum comentário ou sugestão podem escrever para [email protected]

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Leonardo Forte (Léo), 73 anos, economista, publicitário aposentado, casado dois filhos e uma neta. Apaixonado por cinema, literatura e música, escreve contos e promove encontros para ensino de jazz.

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