Eternamente protegida
Das intempéries ao redor
Em fruta bem escondida
Vivendo sem esplendor
Deseja surgir renascida
E pensando adormecida
No futuro que quer de vida
Por carícias bem envolvida
Espera e aguarda pacífica
Enquanto sonha comovida
Certo dia se vê destituída
Daquela sua veste pura
Que abandonada perdida
Sobre a terra crua e suja
É inteira toda nua despida
Vê-se então martirizada
Imaginando-se acabada
Triste, rejeitada, enxotada,
Em solo estéril descartada
E à dura morte destinada
Nesse triste esquecimento
Após tempos de sofrimento
Agora bastante surpreendida
Sente águas no seu entorno
Embebendo-a como adorno
Ela então se alvoroça inteira
E se envolve de esperanças
Porque a satisfaz prazenteira
Repleta de ardor e confiança
Comovendo suas entranhas
Sente-se livre dessa capa
Que cobria seu corpo casta
Some o que lhe agasalhava
E aos poucos cai, descasca
Cada lâmina, cada pétala
Nisso seu âmago se aquece
De incontida alegria sem igual
Comovendo aquelas vísceras
Que buscando beleza natural
À terra apetece e nela cresce
O chão penetra com firmeza
Segurando-o com destreza
Enquanto lança a céu acima
Apêndices de verde pureza
Buscando a luz e sua beleza
Pois que nunca sonhara
Aquela semente resignada
Sentir que só dela brotara
Exuberante e num delírio
Flor da natureza, um lírio