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ESQUELETOS NO ESTACIONAMENTO, uma história de Blanche de Bonneval

Uma dezena de esqueletos humanos foram encontrados durante as obras de aumento do estacionamento. 

“Tinha antigamente aqui um cemitério?” Perguntei a Abbo, o meu chefe dos serviços gerais.

“Não senhora,” respondeu Abbo. Esses corpos devem ter sido enterrados aqui durante a guerra civil de 78/82. Teve combates encarniçados nessa área e morreu muita gente que foi enterrada onde faleceu. Eu sabia que muitos corpos foram sepultados do outro lado do jardim e – não quero assustá-la – outros tantos também foram enterrados atrás da escada da representação.

“O que sugere que façamos para nos livrar deles?”perguntei.

“Bom, sugiro que chamemos a brigada de intervenção rápida da polícia política presidencial.”

Caí na gargalhada: “Mas Abbo, esses infelizes estão naquele buraco faz anos. Eles não precisam mais de qualquer intervenção rápida. Me parece que seria melhor chamarmos a polícia.”

Abbo riu: “A senhora tem razão. Mas a nossa polícia é tão corrupta que se a chamarmos, vamos ter outras complicações. “

Liguei para  o meu amigo Djiddi Adoum, que era coronel do exército e diretor geral das alfândegas. Ele recomendou que chamássemos a polícia. Em caso de problemas, ele viria imediatamente. E assim fizemos.

Duas horas mais tarde, chegaram seis policiais que me fizeram uma péssima impressão. Pareciam bandidos …. O seu chefe olhou longamente para os esqueletos e me encarou desconfiado: Foi a senhora que fez isso? E emendou: Vai  ter de vir imediatamente à delegacia fazer uma confissão completa. Isso é gravíssimo. Pode ter consequências muito sérias para a senhora e sua organização. E sorriu, satisfeito.

Mas é claro que eu não assassinei esses homens, retruquei, sem me abalar. Devem ter sido mortos durante os acontecimentos dos anos 1979/1982. E matar pessoas e as enterrar no nosso jardim não faz parte do nosso mandato, caso não saiba. Bom, agora quanto a nossa ida a delegacia, vamos sim mas antes disso eu quero pedir ao meu amigo, o coronel Djiddi  Adoum, diretor geral das alfândegas, de me acompanhar até lá.”

Os policiais começaram a suar em bicas e a se entre-olhar, amedrontados. O exército no Chade é muito temido. O seu chefe ficou imediatamente mais cooperativo: “Vejo que a senhora está encarregada do escritório neste momento. Deve ter muito trabalho. Então não precisa vir imediatamente. Pode passar mais tarde para conversar sobre este assunto conosco em volta de uma xícara de chá. Pensando melhor, dispenso a sua ida à delegacia. Agora, se o coronel se responsabilizar por si, podemos deixar tudo como está.  Não precisamos envolver o exército nisso.”

“Se levar embora daqui essas ossadas sem me aborrecer mais com alegações absurdas, então concordo em não envolver o coronel neste assunto”, respondi.

Cinco minutos depois, os homens saíram da representação, me fazendo reverências e levando embora sua sinistra carga.

“Abbo!” Chamei. “Abbo, por favor. O estacionamento já foi alargado um pouco então manda parar todas as obras. Não quero me achar com um novo número de esqueletos – que pode ser até maior do que o que já despachamos – e ter de lidar com essa gente de novo.

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