(Para Ana Rita)
Esse negócio de escrever pra neto — nascido ou prestes a nascer — não é novidade na literatura. Basta uma olhadela no Google, e lá se encontrarão, aos montes, registros enternecidos de avôs e avós arrebatados pelo encanto da “avonidade”. Em 1980, Hélio Pellegrino escreveu um bilhete pro seu neto Francisco, que acabara de nascer. A amorável cartinha, donde roubei o título desta crônica, deveria ser entregue ao rapaz apenas na virada do século: dia 31 de dezembro de 1999, quando Chico estivesse com 20 anos. A que escrevo agora deixo-a livre, sem exigências, apenas com o desejo de que chegue à destinatária e que ela a receba como um primeiro paparico deste avô em começo de carreira. Aqui vai:
Minha pequena Ana,
Você ganhou um nome grande: Ana Rita Monteiro Luizaga de Castro, mas eu gostei dele. Primeiro porque, sendo Ana um palíndromo, seu nome dialoga com o passado e o futuro ao mesmo tempo. Isso é cósmico, Aninha, é transcendente (depois te explico melhor essas coisas). Gostei também de Rita porque sei que é uma homenagem à sua bisa, e que você tem xarás célebres como a bela Hayworth e aquela moça que levou o sorriso do Chico Buarque. No sobrenome, você carrega o Monteiro pernambucano, o Luizaga andino e o nosso Castro mineiro-português. Acho que esse amálgama de transcendência e ancestralidades lhe assentou muito bem.
Segundo as previsões da Obstetrícia, você vai chegar em julho. Isso significa que estaremos no inverno, mas não espere encontrar tempo fechado e baixas temperaturas. Pelo contrário. Na região do Brasil onde você virá à luz, não se segue essa nomenclatura e, de fato, as estações estão invertidas. Ou seja, o inverno existirá apenas no calendário; no ambiente real será verão: estação solar, luminosa, alegre, vibrante. Época em que os ipês (a sua cidade tem dezenas deles) começarão a florir, enfeitando as alamedas de Palmas com flores amarelas, roxas, brancas e cor-de-rosa. E você, minha florzinha do cerrado, terá um ótimo clima pra nascer.
Nascer, renascer, adormecer, despertar. Esses verbos parecem adquirir novo sentido agora que você vem na minha direção. Seu nascimento parece materializar uma costura no tempo, um encadear de existências, que chegam e que vão num fluxo contínuo que antes me era imperceptível. Você é flecha novíssima, lançada pro futuro. Você é o próprio futuro. Mas você também é a flecha ancestral que me conecta à minha essência e às leis naturais da humanidade.
Menos metafísico, eu quero te dizer que sua chegada me reconcilia com a vida, me dá a chance de reencontrar o encanto da vida, aquele que um dia eu tive e me foi arrancado. Pensar em você é pensar nos estreitos e imensos espaços de ternura e felicidade que poderão estar contidos num abraço, num olharzinho choroso, num passeio. Você, Aninha Rita, é detentora dessa dádiva, desse impenetrável e sublime mistério. Deus te abençoe!
Um beijo do seu avô,
Luciano.
*Goiânia, janeiro/2024
Que texto lindo!
Que Ana venha cheia de saúde. O amor, ela vai descobrir quando ler essa crônica
Que lindeza! Aninha chegará ao mundo recebendo muito amor!
Obrigado, Leticia.
Valeu, meu chapa!
Obrigado pelo carinho.
Valeu, Felipe. Comentário de cronista carioca tem peso 2. Abraço!
Que lindo! Lembrei do Khalil Gibran falando das flechas que nossos filhos são, os netos vão além, né? ! Aninha terá muita alegria com esse vovô. Parabéns!
Obrigado, Lilian!
Luciano, lindo se texto para Ana Rita. Digo isso não porquê estou vivendo “avonidade” como você colocou, nem porquê Ana é o lindo nome da avó de Cristo.
Seu texto me comoveu.
Abraço
Suas palavras carinhosas são um incentivo Forte, Leo. Abraço!
Lindo e comovente texto , Luciano. Os netos trazem alegria e renascimento . Bem-vinda , Ana.
Super Áurea, agradeço pela gentileza. Abraço!
Lindo, sensível e certeiro com as palavras. Como sempre. Parabéns pelo tocante texto em tributo à vida, Luciano.
Prezado Eberth, sendo escritor e obstetra você entende bem desse riscado.
Obrigado pelas palavras carinhosas.
Abraço!
Simplesmente emocionante! Ana Rita é como um beijo suave de vida que Deus nos dá!
Obrigado, Camilinha. Que Ana Rita venha pra nos encher de amor.
Um beijo!
Amigo irmão e parceiro. Que coisa linda escreveu coração e alma e nós que te conhecemos de perto entendemos bem o que significa esse renascimento tão próximo parabéns !!!
Valeu, parceiro!
En una carta como esta es fácil caer en sentimentalismos empalagosos y lugares comunes, sin embargo, tú los sabes evitar muy bien. Sin caer en ellos, el texto tiene la dosis exacta de sentimiento que le da un carácter simplemente sublime. En solo cinco párrafos, sabes mezclar referencias culturales –muy propias de tu escritura y de todo mi gusto– geografía, transgeneracionalidad y hasta botánica para darle a Anita el lugar que merece. El resultado es es lo que acabamos de leer: un texto en “dulce balance”, como dice la célebre joya que nos regalaron Antonio Tom Jobim y Vinícius de Moraes. Parabéns, Luciano.
Querido Jaime,
muchas gracias por dejarme un comentario tan generoso. ¡Un afectuoso abrazo!
Luciano: sem ter seu talento poético-literário escrevi um poema para cada um dos 3 netos e mandarei aos Fifties o que não tiver publicado ainda. Todas foram produzidos na infância deles !
Prezado Éder, você é um avô-escritor experiente.
Gostaria muito de ler seus poemas.
Cordial abraço!
Belo texto do poeta e cronista Luciano Alberto de Castro, que com a simplicidade, simpatia e sensibilidade inerente aos mineiros, nos presenteou com um texto carregado de sentimento e realidade, a exemplo do que podemos encontrar nas 50 crônicas da sua bela obra: Os óculos do poeta. Parabéns Luciano, saúde para Ana Rita e gratidão pela belezura de texto!
Luciano: sem ter seu talento poéticoliterário escrevi um poema para cada um dos 3 netos e mandarei aos Fifties o que não tiver publicado ainda. Todas foram produzidos na infância deles !
Lindo texto de um excelente escritor.
Muito obrigado, professor Márcio.
Parabéns pelo texto tão lindo e pela netinha que está a caminho!
Valeu, Felipe. Comentário de cronista carioca tem peso 2. Abraço!
Cirúrgico com as palavras. Palavras que vão desenhando, tecendo, dançando e dando ritmo ao poema e que alcançam o alvo com muita ligeireza. Bela homenagem. Valeu, vovô Luciano!
Como sempre o escritor tem um texto leve e cativante, que nos remete a um quero mais coisas assim. Gostei especialmente da citação “Você é flecha novíssima, lançada pro futuro. Você é o próprio futuro.” Verdade!!! É futuro e é presente que está aí para alegrar nossas vidas. Seja bem-vinda Ana Rita.
Fiquei imaginando Ana Rita lendo essa carta e se sentindo absurdamente amada antes de vir ao mundo. Parabéns meu querido, sempre muito criterioso com as palavras, sobretudo essa que flecham o coração 😘
Caro Luciano. Mais uma vez um texto bom de ler, limpo, com o tom cuidadoso do avô da vez. E, ainda, com a candura de quem quer ser “aquela presença”. Um abraço carinhoso de avô pra avô.
Parabéns, Dr Luciano. Bela reflexão.
Luciano
Não há como não se comover com a delicadeza, a sensibilidade com que você manifesta seu amor ppor Ana Rita. Você produziu um lindo manifesto a favor da prevalência do Amor sobre tudo o mais, que ligao futuro cósmico à ancestralidade. Parabéns!
Querido amigo, mais um lindo texto seu, carregado de ternura e encanto pela renovação da vida, que ora te alcança. Que você venha com muita saúde Ana Rita, certa de que encontrará um abraço/ braço afetuoso sempre a te abarcar, pois esse vovô já está antevendo esses maravilhosos momentos!
Belo texto! Fez brotar lágrima de afeto bom. Aninha vai saber, em letras, o quanto já era amada antes mesmo de chegar. Que privilégio!
Muito singela sua expressão poética, quem de nós não se emociona com a continuidade de vida neste elo do nascimento de uma netinha…Parabéns pela composição do belo texto, escritor Luciano.
O amor pelos netos é um sentimento que ultrapassa as palavras, é a sensação que temos ao ouvir um Beethoven, ao entrar em uma cachoeira, ao encantamento de um nascer do sol. A sua netinha, que ainda está em outro lugar, já suscita a magia da sua presença. Parabéns, querido Luciano, viva a vida!
Muito Lindo e emocionante! Que a Ana Rita venha com muita saúde! Muito amada, com certeza, ela já é!
Bonito d+ Luciano.
Como avó “postiça”, sinto um amor tão puro. A maior alegria que provo hoje em dia, está naquele momento em que venho de mãos dadas com meu moleque depois de pegá-lo na escola, ouvindo as peripécias de seu dia. Parece que flutuo em nuvens de felicidade pura.
Parabéns por sua Ana!
Luciano, já havia lido seu texto em fevereiro de 2024. Ao retomar sua leitura meses depois, reencontro a mesma alegria da beleza que espera a tão amada Aninha.
Lindo e comovente texto.