"Proclamação da República", 1893, óleo sobre tela de Benedito Calixto (1853-1927)

#poema
Quinze de Novembro,
Eder Quintão

Quinze de Novembro
Dia festivo aclamado
Meu avô presenciou
Num tempo passado
Era dia treze de maio
Do escravo libertado
Multidão em desvairo
Que tão feliz chorou


Traiu-te tua filha nobre
Que liberdade concedia
A cativos, porém tardia
Sem alívio a esse pobre
No sangue que escorre
Do que a chibata fazia
Mas toda a terra cobre

Caro Pedro Segundo
Sábio que eras sabias
Mostrar-se tão fecundo
Em hebraico, aramaico
No latim que conhecias
Mais o puro português
E com íntimos, francês


Com tua rainha torta
Que a ti foi imposta
Que amor acontecia?
Nunca ela te flagrou
Sabendo te apetecia
Era ter com a Barral
O sexo extramarital?


Foste deveras discreto
Não herdando um jeito
Daquele teu pai esperto
Para botar a escanteio
A bagulho tão malfeito
Pois teu herdado sexo
Carecia de mais afeto


Não foi a vida amorosa
Se com feiosa dormias
Distante das formosas
Mas fizeste duas crias
A que contigo parecia
Foi ela pro conde D’Eu
Porém deu no que deu


Pois ele se entretinha
Sendo nobre obstinado
Liquidando criancinha
No distante Paraguai
Sem ser incomodado
Por Caxias medalhado
Patrono reverenciado


De fazendas de donatário
Ficou teu cifrão minguado
Bem pronto desguarnecido
E por positivistas rejeitado
Do papa muito esquecido
Em tua Petrópolis isolado
Ficou teu trono ameaçado


Na tua vida simplória
Sabe-se sobrevivias
Numa cultura notória
Pois só tinhas o olho
Sobre livros que lias
Mas botar de molho
Longa barba devias


Com grande festival
Surpresa te armaram
Em baile monumental
Na antiga Ilha Fiscal
Logo te despacharam
Para o descanso final
A pastar em Portugal


Sendo breve resultado
Do marechal cavalgado
Levaram-te um recado
Do Campo de Santana
Em um dia ensolarado
Que do trono acabado
Vais bem escorraçado


Enviaram-te um tenente
Despedir-te Moderador
O imperador dormente
Hoje treinados melhor
Não como antigamente
Mandam-nos tudo pior
E até militar impostor

Demitiram de antemão
A condes e marqueses
Mais todas as realezas
Poupando de antemão
Ao Rio Branco, o barão
Pela notória esperteza
Fazer crescer a nação


Escondido o conservador
Passavas por Moderador
Porém absoluto no poder
Indago de ti se herdamos
Da constituição detratores
Das eleições fraudadores
E os policiais torturadores


Mas a herança sacana
Deixaste Pedro banana
Em capitães e majores
Coronéis mais generais
E tantos militares mais
De poder, usufruidores
E de leis profanadores


Que tua coroa sepultada
Sonham ver ressuscitada
Uns malucos alucinando
E bandeiras tremulando
Com ideias pervertidas
De revoluções fascistas
E horror a esquerdistas


Sonham que volte o dia
De ressurgir a hierarquia
Com família e propriedade
Restaurando-se monarquia
Sem igualdade e liberdade
Logo recrie-se escravidão
Para que numa corte nobre
Volte herança com tradição
Resgatando barão e lorde

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