Blog Alfredo Yazbek Neto sítio santa bárbara

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Alfredo Yazbek Neto em
Do asfalto

Acordei cedo, como de costume, encilhei-me na barata, apertei o botão de partida e me pus a galopar os 125 cavalos do motor de dois cilindros. Destino? Sorocaba, meu torrão natal. Mas não entrei na castelinho, segui reto pela Castello Branco até a saída PAra Porto Feliz. De lá, fui em direção ao Sítio Santa Bárbara, do meu avô Pery e da minha avó Ondina. Lá passava minhas férias de verão, que duravam longos e prazeirosos e deliciosos três meses. O dia mal raiava e o pão feito em casa era besuntado de banha de porco e jogado na chapa do fogão à lenha. Ia para o pasto com uma espiga de milho e um pedaço de corda atrás de uma das éguas, passava a corda pelo seu pescoço, procurava um cupim alto, subia nele, montava e saía em disparada pelos campos, imitando algum cowboy que tinha visto em um filme qualquer de faroeste. Revólver de espoleta na cintura, botas de cano sanfonado, chapéu na cabeça, estrela de xerife no peito. Uma vez assisti ao exato instante em que um bezerro saiu do ventre da vaca junto com toda a placenta. A vaca comeu tudo (menos o bezerro), fiquei lá, parado, atônito, sem me dar conta da cena de vida que via. A espingarda CBC de chumbinho, o estilingue feito com forquilha de goiabeira. Meu avô que tirava leite da vaca direto no copo com Toddy. Minha avó que preparava a melhor sopa de feijão, plantado e colhido ali mesmo. O obrigatório banho de fim de dia na banheira com pés de ferro fundido trabalhados e água esquentada no fogão à lenha. O Jornal e depois Irmãos Coragem até quando acabava o diesel e, bem calmamente, a luz do gerador se apagava. De lampião em punho, íamos guiados para a cama. O sítio ainda está lá, a banheira com seus lindos pés serve de cocho para os animais, a luz é elétrica e tem até geladeira, o fogão não existe mais. Meu avô e minha avó vivem na minha memória. O dia foi perfeito para andar de motocicleta.

14 comentários

  1. Escrita veloz e fartamente imagética, como uma viagem de motocicleta. Parabéns pelo texto, Alfredo. Como diria o Fernando Sabino: Deixa o Alfredo falar!

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