Clube dos Escritores 50+ Blanche de Bonneval A mais negra das noites

A HORA MAIS NEGRA DA NOITE,
por Blanche de Bonneval

Eu estava servindo no Tadjiquistão no auge da guerra civil. Havia combates entre as forças governamentais e os fundamentalistas islâmicos até na capital, Duchambé. O pessoal das Nações Solidárias estava proibido de sair de casa a não ser para ir trabalhar. Me congratulei de já ter feito o meu reabastecimento de gêneros alimentícios no outono em Tashkent, capital do país vizinho, o Uzbequistão, quando as estradas ainda eram praticáveis.

Continuar lendo
Clube dos Escritores 50+ Blanche de Bonneval Esqueletos

ESQUELETOS NO ESTACIONAMENTO, uma história de Blanche de Bonneval

Uma dezena de esqueletos humanos foram encontrados durante as obras de ampliação do estacionamento. “Tinha antigamente aqui um cemitério?” Perguntei a Abbo, o meu chefe dos serviços gerais. “Não senhora,” respondeu Abbo. Esses corpos devem ter sido enterrados aqui durante a guerra civil de 78/82. Teve combates encarniçados nessa área e morreu muita gente que foi enterrada onde faleceu. Eu sabia que muitos corpos foram sepultados do outro lado do jardim e – não quero assustá-la – outros tantos também foram enterrados ali atrás…

Continuar lendo
blog Clube dos Escritores 50+ Blanche de Bonneval Fardas e dentes

#memórias
ENTRE FARDAS E DENTES,
mais uma história de Blanche de Bonneval

Quando quis abrir a porta, fui atacada por uma matilha de cães vadios que, famintos, se atiraram contra o carro, tentando me morder pela janela e a porta entreaberta. Estes rafeiros, beges, de pelo curto, com patas e pescoços longos eram extremamente perigosos e não hesitavam em estraçalhar – e devorar – homem ou animal. Não era à toa que os militares saíam todas as noites para matá-los a tiros de metralhadora do alto dos seus Toyotas.

Continuar lendo
blog Clube dos Escritores 50+ Blanche de Bonneval Mulher águia

A DESPEDIDA DA MULHER ÁGUIA,
mais uma história de Blanche de Bonneval

Acabara de me aposentar das Nações Unidas em 2005 e tinha voltado para São Paulo, a minha cidade natal. Até agora, eu percorrera o planeta e atuara em alguns dos países mais perigosos do mundo sempre tentando servir e ultrapassar os meus limites. Se eu tinha a certeza de que todas as experiências que vivenciara me levariam à uma nova vida, eu estava no momento doente e sem rumo.

Continuar lendo
Blog Clube dos Escritores 50 mais Blanche de Bonneval A facada

A FACADA DESFERIDA DO FUTURO,
por Blanche de Bonneval

Foi aí que lembrei onde vira esta paisagem. Ela me aparecera num sonho que tivera quando eu tinha doze anos (eu agora tinha vinte e seis). E esta recordação parecia aumentar ainda mais o meu medo. Sentia-me desorientada, sem entender as causas do meu pavor ou saber o que fazer para me acalmar. Pensei que se tentasse lembrar o resto do sonho ficaria mais tranquila.

Continuar lendo